Hermenêutica
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culto começou em ponto, 7h. Os fieis já
estavam todos nos seus respectivos postos, os bancos estavam quase todos
preenchidos. O órgão delicadamente tocado enfeitava o prelúdio. Alguns oravam.
Outros fofocavam. Nada fora da normalidade. A porta localizada atrás do púlpito
foi aberta, o pastor e o dirigente da liturgia entraram. Silêncio. Os lábios se
fecharam. A organista finalizou a sua primeira participação, o liturgista
seguiu paulatinamente o roteiro. Chamada à adoração, oração de invocação,
leitura bíblica do Antigo Testamento, chamada a confissão, oração de confissão,
declaração de perdão, cântico, leitura bíblica do Novo Testamento.
O pastor abriu as
Sagradas Escrituras e leu um capítulo dos livros sinóticos. A congregação
acompanhava. A leitura discorria sobre um Jesus libertador, sujeito simples e
divino homem do seu tempo. Revolucionário a seu modo. Inquieto, inconformado,
provocador. Contador de causos. Sensível aos excluídos, amante da liberdade.
Optou pelos pobres e marginalizados. Preso político, foi torturado e
assassinado por pregar e viver o amor.
A leitura foi
finalizada, oração por iluminação. O pregador iniciou o sermão,
o discurso apresentava um Jesus autoritário, sujeito endeusado a ponto de ser
diferente do povo. Conservador a seu modo. Fanático, intolerante, acusador. Contador
da verdade absoluta. Insensível aos invisíveis do seu tempo, ridicularizador da
liberdade. Optou pela preservação do status
quo. Preso religioso, foi torturado e assassinado por pregar e viver a única
e genuína religião: o cristianismo. Término do sermão.
O irmão que
dirigia a liturgia assumiu as rédeas novamente. Envio, cântico, oração de
enceramento, benção apostólica, amém tríplice. O órgão delicadamente tocado
enfeitava o pósludio. A organista finalizou a sua última participação. Fim do
silêncio. Todos rumaram sentido porta de saída do templo, hora de cumprimentar
o reverendo e o liturgista.