segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Hermenêutica

O
 culto começou em ponto, 7h. Os fieis já estavam todos nos seus respectivos postos, os bancos estavam quase todos preenchidos. O órgão delicadamente tocado enfeitava o prelúdio. Alguns oravam. Outros fofocavam. Nada fora da normalidade. A porta localizada atrás do púlpito foi aberta, o pastor e o dirigente da liturgia entraram. Silêncio. Os lábios se fecharam. A organista finalizou a sua primeira participação, o liturgista seguiu paulatinamente o roteiro. Chamada à adoração, oração de invocação, leitura bíblica do Antigo Testamento, chamada a confissão, oração de confissão, declaração de perdão, cântico, leitura bíblica do Novo Testamento.
O pastor abriu as Sagradas Escrituras e leu um capítulo dos livros sinóticos. A congregação acompanhava. A leitura discorria sobre um Jesus libertador, sujeito simples e divino homem do seu tempo. Revolucionário a seu modo. Inquieto, inconformado, provocador. Contador de causos. Sensível aos excluídos, amante da liberdade. Optou pelos pobres e marginalizados. Preso político, foi torturado e assassinado por pregar e viver o amor.
A leitura foi finalizada, oração por iluminação. O pregador iniciou o sermão, o discurso apresentava um Jesus autoritário, sujeito endeusado a ponto de ser diferente do povo. Conservador a seu modo. Fanático, intolerante, acusador. Contador da verdade absoluta. Insensível aos invisíveis do seu tempo, ridicularizador da liberdade. Optou pela preservação do status quo. Preso religioso, foi torturado e assassinado por pregar e viver a única e genuína religião: o cristianismo. Término do sermão.
O irmão que dirigia a liturgia assumiu as rédeas novamente. Envio, cântico, oração de enceramento, benção apostólica, amém tríplice. O órgão delicadamente tocado enfeitava o pósludio. A organista finalizou a sua última participação. Fim do silêncio. Todos rumaram sentido porta de saída do templo, hora de cumprimentar o reverendo e o liturgista.